Cada fase da nossa vida financeira tem diferentes desafios e requisitos. Se pudermos medir e comparar a nossa evolução financeira com algum referencial,saberemos onde nos encontramos e que competências trabalhar. Por exemplo, um jovem que acaba de sair de casa dos pais e encontra-se em mãos com a sua primeira decisão imobiliária não pode basear-se nos mesmos paradigmas e pressupostos que uma pessoa que está a 10 anos da sua reforma e quer manter a mesma qualidade de vida depois dos 65 anos.
O método apresentado seguidamente foi primeiramente apresentado por Bert Whitehead no seu livro “Why Smart People do Stupid Things with Money” e adaptado por mim à realidade e rendimentos dos Portugueses. Baseia-se numa progressão linear de fase financeira em fase financeira e recomendo já que não tire conclusões precipitadas se achar que não está na fase financeira que devia, pois a idade apresentada é um factor relativo.
A verdade é que a maioria das pessoas mede a sua situação financeira em função de factores externos como a casa onde vive, o seu carro ou emprego que detém, algo que está assente nos referenciais errados. Vamos então analisar as várias fases financeiras que se dividem na fase da acumulação e na fase da conservação, cada uma com várias etapas.
Fase da Acumulação
Os anos de acumulação podem-se dividir em 3 etapas como mostra o quadro seguinte:
Quais são então as estratégias a seguir consoante cada etapa? Vamos detalha-las seguidamente.
Criar as Fundações
Quando se está na etapa de Criar as Fundações, é necessário tornar-se auto-suficiente. Esta etapa inicial é das mais importantes da vida financeira de uma pessoa pois é também onde se cometem os maiores erros financeiros e se hipotecam alguns anos da nossa vida futura a remediá-los.
Quais são os princípios a seguir durante estes anos? O mais importante talvez seja o de manter uma estrutura de custos leve e não se endividar. Talvez seja mais fácil dizer: não compre casa própria (afirmo-o desta forma pois sei que há milhares de jovens que irão continuar a comprar ao invés de arrendar) ou contraia outro tipo de empréstimos de elevado montante. Nesta fase é importante que se mantenha flexível, focado na sua progressão laboral e na geração de rendimentos que cubram as suas despesas. É essencial que pague primeiro a si, pelo menos 1 hora de trabalho diário (correspondente a 12,5% de poupança mensal se trabalhar 8 horas por dia) e que liquide dívidas que possa ter contraído para pagar os seus estudos.
Ter liquidez e capital disponível é das práticas mais importantes. Lembre-se que deveria ter um cesto da segurança onde tem idealmente 6 meses de despesas mensais poupadas para alguma emergência.
Infância da Acumulação
Quando atinge a infância da acumulação já estruturou as suas fundações e conseguiu acumular um valor líquido semelhante a pelo menos 1 salário bruto anual. Os 30 anos de idade correspondem à idade média para ter filhos em Portugal, surgindo assim a necessidade de planear adequadamente os seus recursos e de como sustentar novos elementos da sua família.
Algumas pessoas ponderam adquirir um imóvel e torna-se assim essencial adquirir uma casa adequada às suas necessidades, cujo valor patrimonial não exceda 3 ordenados brutos anuais do agregado. A alocação de dinheiro em activos imobiliários é uma forma importante de diversificação do património, mas que ganha mais relevância quando temos mais capital. Estes anos são importantes para complementar a sua educação financeira. Tendo já alguns anos de rendimentos aferidos, esta é a altura para investir e começar a diversificar o seu capital. Como parte da carteira de um jovem activos como fundos e acções deverão ser adquiridos. Um dos erros mais comuns é ter o nível de risco adequado à idade da pessoa: sabemos que quanto mais jovens somos, mais risco podemos correr (uma regra importante a ter em conta é a regra dos 100: se subtrairmos a nossa idade a 100 teremos o montante máximo a investir em activos arriscados). Aparecem nesta altura produtos como Planos Poupança Reforma (com base em acções por exemplo) para complementar os depósitos a prazo e para começar a preparar a sua reforma. Também durante esta fase a gestão da sua liquidez é muito importante.
Sou um grande defensor da diversificação das fontes de rendimento para termos mais alguma segurança nos rendimentos que aferimos e esta é a etapa indicada para ter mais do que uma fonte de rendimento. Voltaremos a este tema posteriormente.
Acumulação catalisada
Se tudo estiver a correr de acordo com estas fases financeiras poderá chegar aos 40 anos com um valor líquido semelhante a pelo menos 3 salários brutos anuais. Este é um valor confortável para deixar as suas fontes de rendimento alavancarem-se e continuar a investir. No entanto a maioria dos gastos e fundações já estará em curso e terá uma saúde financeira sólida. Lembre-se que a idade é relativa, mas tipicamente todos passamos por estas fases financeiras. É também pelos 40 anos que tipicamente os trabalhadores dependentes atingem o planalto dos seus rendimentos, devendo focar-se na diversificação para outras categorias de rendimento se pretendem ganhar mais dinheiro.
No entanto, consoante o seu salário bruto anual, diferentes competências são necessárias. A média dos portugueses afere 1.100€ brutos mensais, que correspondem a aproximadamente 13.200€ brutos anuais. Acredito que com o pensamento financeiro que desenvolveu e com a política de diversificação das fontes de rendimento já esteja bem acima dessa fasquia. Se estiver na média nacional deverá ter um valor líquido de aproximadamente 40.000€ ao entrar nesta etapa.
Durante a acumulação catalisada é importante ter um bom aconselhamento fiscal. Um estudo da Universidade Nova de Lisboa concluiu que a média dos portugueses trabalha 139 dias só para pagar impostos, ocorrendo o Dia da Libertação dos Impostos no dia 19 de Maio (e este número tem subido recorrentemente). Nesta fase da sua vida financeira poderá começar a procurar activos que tenham mais alguns benefícios fiscais, em vez de remunerações sempre em dinheiro líquido, e poderá optar por outros regimes contabilísticos consoante os seus rendimentos e despesas. Caso seja empresário, um simples exemplo passa por receber dividendos da sua empresa, que são na maioria das vezes tributados mais vantajosamente que ao aferir um salário mensal. Um técnico oficial de contas deverá fazer parte da sua equipa.
Fase da Conservação
Os anos de conservação podem-se dividir em 2 etapas como mostra o quadro seguinte:
Pré-Reforma
Quando se atinge a pré-reforma já deverá ter atingido um nível de vida para o qual esteja confortável e não precise de ter mais fontes de rendimento para ter qualidade de vida. É importante que já tenha preparado de antemão a segunda fase da sua vida, complementando o dia-a-dia com as coisas que gosta de fazer e que não as faz realmente por dinheiro.
Um complemento importante para os seus rendimentos laborais deverá ser o retorno dos seus investimentos. Se colocou o dinheiro a trabalhar para si continuamente ao longo da sua vida, já deverá ter rendimentos provenientes dos seus investimentos que correspondam a 50% das suas despesas mensais. Durante a pré-reforma, estes investimentos deverão gradualmente ser alocados em produtos com menos risco pois à medida que se aproxima da idade da reforma quer que o seu dinheiro esteja mais seguro, sem correr tantos riscos.
Se teve filhos no início da Infância da Acumulação estes estarão possivelmente a terminar os seus cursos superiores e brevemente poderá deixar de ter despesas com os seus dependentes mais novos. Esta é a altura ideal para fazer contas às suas despesas mensais e analisar quanto precisa de gastar por mês para ter um nível de vida equilibrado.
Idade de Ouro
Chamo Idade de Ouro à etapa em que as pessoas já preparam a segunda metade das suas vidas, tendo mais dinheiro do que necessitam de gastar até falecerem. Tipicamente é a idade em que se realizam alguns grandes sonhos como viagens ou gostos excêntricos, mas rapidamente se estabilizam as despesas mensais.
Mesmo durante a idade da reforma, é importante que se continuem a aplicar as regras de poupança e investimento, correndo pouco risco na maioria dos investimentos. No entanto se não está a conseguir ter o nível de vida pretendido nesta fase da sua vida, deverá ponderar baixar as suas despesas mensais para o conseguir. Caso ache que tem demasiado dinheiro poderá ajudar quem precisa, dando por exemplo algum dinheiro para caridade ou mesmo aumentar o seu nível de vida desenvolvendo novos hábitos de consumo. O maior desafio desta etapa é tipicamente a distribuição da sua riqueza pelos seus descendentes. Algumas pessoas fazem-no durante a vida para não terem impostos sucessórios tão penalizadores, mas outras preferem redigir testemunhos. Deixo este tema para outras publicações devido à sensibilidade e análise cuidada que tem de ser feita caso a caso.
Uma nota final sobre as diferentes fases financeiras
A média dos reformados Portugueses fica apenas com 14 euros por mês depois de pagar os encargos domésticos (Seguradora AXA, 2006). Sabemos também que dois terços dos Portugueses não poupa para a reforma nem tem intenções de o fazer. São dados que indicam que muitos Portugueses não chegam à Idade de Ouro com um valor líquido correspondente a 12 salários brutos anuais ou qualidade de vida que faça jus à vida de trabalho que tiveram. Este é também o problema das médias. Se todos tivermos conscientes da importância do planeamento financeiro e dos desafios das várias etapas, podemos com pouco esforço ter mais qualidade de vida. Basta estar desperto para este tema. Agora que já está, o que vai fazer?
PQC
Kash.pt
Acho este artigo muito interessante.
Encontro-me na fase de criar as fundações e realmente há uns dias que ando a verificar as contas a prazo do Netbanco Santander. Este artigo não podia vir em melhor hora.
A minha ideia é começar a colocar 250 euros mensalmente (e outros 250 da minha namorada) no início e alargar para os 500 euros (1000 pelos 2) daqui a 3, 4 meses. Eu não sei como são o resto das pessoas mas pessoalmente quanto mais dinheiro vejo na conta, menos quero gastar. Se estiver “teso” tenho mais facilidade em gastá-lo.