Francisco Lopes, as suas poupanças e o país

Em Dezembro lançamos um desafio aos candidatos presidenciais. Com 3 perguntas o objectivo era saber mais sobre as poupanças dos candidatos. Francisco Lopes respondeu ao nosso repto, contrariamente ao outros candidatos. Aqui deixamos a sua visão sobre o estado actual do nosso país, do mercado de acções e das suas poupanças.

Acha recomendável o investimento em acções neste momento?

As questões centrais que se colocam hoje são a dinamização da  actividade produtiva e da produção nacional, para criar mais riqueza,  mais emprego e, ao mesmo tempo, assegurar uma mais justa distribuição  da riqueza.

O mercado bolsista em Portugal, tal como a Comissão de Mercados de  Valores Mobiliários (CMVM) reconhece num recente estudo, é um mercado  em que apenas 9,2% dos intervenientes são famílias e em que a maioria  dos intervenientes são estrangeiros. Por outro lado, o mercado  bolsista tem um peso residual no financiamento da economia e tem  servido fundamentalmente para os detentores de acções das empresas  cotadas em Bolsa o usarem com o seu valor bolsista, procurando obter  tão rapidamente quanto possível ganhos com a sua venda.

Por todas estas razões considero que as famílias que conseguem ter  poupanças suficientes para aplicar, o devem fazer preferencialmente na  aquisição de títulos da dívida pública do Estado – quer se trate de  certificados de aforro ou de certificados do tesouro, estes criados  recentemente.

Infelizmente o Governo PS tem, nos últimos anos, feito tudo para fazer  com que o principal produto de aforro público detido pelas famílias –  os certificados de aforro – tenha resultados baixos, fazendo com que  muitas famílias procedam de forma crescente ao seu resgate. Só nos  últimos três anos os certificados de aforro viram o seu peso na Dívida  Pública baixar de 15% para pouco mais de 10%, tudo isto porque rendem  0,8% ao ano, enquanto produtos idênticos vendidos a intervenientes  «institucionais» (bilhetes do tesouro) rendem 4,5% líquidos. Desta forma os intervenientes «institucionais» detêm hoje quase 90% da  dívida pública e entre estes os estrangeiros detêm mais de 75% da  nossa dívida pública.

O Governo PS preferiu entregar ao sector financeiro o grosso da dívida  pública pagando taxas elevadíssimas por isso, em vez de incentivar a  poupança das famílias a adquirir essa mesma dívida a taxas muito mais  favoráveis para o Estado e para as famílias.

Desta forma, as famílias aplicam as suas poupanças em produtos  financeiros pouco rentáveis que a banca lhes disponibiliza e o Estado  endivida-se de forma crescente a intervenientes «institucionais», em  especial estrangeiros.

Tal como temos vindo a reafirmar, defendemos que o Estado deveria  preferencialmente financiar-se junto da poupança interna das famílias  e dos sectores institucionais. Para tal deveria criar condições  atractivas à captação destas poupanças e simultaneamente deveria  procurar diversificar as fontes externas do seu financiamento, pois só  assim será possível a prazo preservar a defesa da nossa soberania.
Detém obrigações do tesouro português e que outros tipos de activos tem?

As minhas poupanças, que são de valor reduzido, estão constituídas  sobre a forma de depósito a prazo susceptíveis de poderem ser usadas  para necessidades urgentes. Havendo poupanças mais significativas e  mais imunes a eventuais necessidades de uso imediato, considero como  solução mais natural a sua aplicação em instrumentos de financiamento  do Estado Português (certificados de aforro e certificados do tesouro).

Que medidas tomaria na Presidência da República para reduzir a despesa?


O Presidente da República não tem funções de governo ou de  elaboração de leis, no entanto, pode usar os seus importantes poderes  para influenciar o rumo da política nacional. É neste quadro que  exprimo a minha opinião. Um dos problemas fundamentais do nosso país é  o desequilíbrio crónico da nossa balança comercial, há várias décadas  em torno dos 10% do PIB e exigindo um permanente financiamento que nos  conduziu aos níveis de endividamento externo líquido em que nos  encontramos, cerca de110% do PIB (dívida pública e privada).

Está assim claro que o problema principal que Portugal tem é uma  produção insuficiente para dar resposta às necessidades nacionais e  para exportar mais.

O problema do défice orçamental do nosso país, sendo uma situação  sempre indesejável, constitui a conjugação de dois factores: a  evolução da despesa pública e a evolução da receita pública.

É possível cortar em muita despesa pública improdutiva e, nesse  sentido. em sede de discussão do Orçamento do Estado para 2011 foram  apresentadas pelo PCP várias propostas que permitiriam ao Estado  poupar centenas de milhões ou milhares de milhões de euros,  nomeadamente através da redução da aquisição de serviços e de  aquisição de software livre em vez da actual aquisição de software.

No entanto, coisa diferente é o corte de despesas de investimento que  comprometendo o desenvolvimento do país, irá contribuir para o  agravamento dos nossos défices estruturais.

Por outro lado, é verdade que a arrecadação da receita tem ficado  muito aquém daquilo que seria desejável. Foram também apresentadas  pelo PCP várias propostas que permitiriam ao Estado arrecadar uma  muito maior receita anual através da taxação das transacções bolsistas  e da cobrança de uma taxa efectiva de IRC aos grandes grupos  económicos e financeiros de 25%,.

Um melhor controlo na evolução da despesa pública, que nunca passaria  por aquilo que o Governo PS em conjugação com o PSD fazem (corte nas  prestações sociais, nas pensões, nos salários dos trabalhadores e no  investimento público essencial ao desenvolvimento) e  uma maior  cobrança na receita fiscal, com a criação de condições para um  crescimento económico sustentado, conduzir-nos-iam certamente a um  muito maior controlo nas contas públicas.

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